TPC – “Tortura Para Crianças”?!
Os TPC são trabalhos orientados pelo professor para serem realizados fora do tempo de aulas.
O primeiro objetivo dos TPC deve ser desenvolver competências associadas ao estudo individual, como sejam:
(1ª) a responsabilidade por anotar e perceber o que é suposto fazer
(2ª) a responsabilidade de tratar dos materiais necessários para os fazer
(3ª) a responsabilidade de se lembrar e tomar a iniciativa de os fazer
(4ª) a responsabilidade por tentar fazer o seu melhor, ajustando estratégias
(5ª) a responsabilidade de pedir ajuda quando necessário
(6ª) a responsabilidade de verificar quando está terminado e de arrumar tudo devidamente
Nos primeiros anos, esse é mesmo o único objetivo dos TPC. Uns anos mais à frente, serão também muito importantes para consolidar, estudar, decorar, praticar…
Também poderão servir para aprendizagens autodirigidas em que o aluno deve pesquisar e aprender por si próprio algo novo.
Para que os TPC sejam realmente úteis, comece por se informar junto do professor do seu filho o que ele pensa fazer acerca dos TPC:
- Manda TPC todos os dias? Em dias certos? Pontualmente? Ou nunca?
- Quer que sejam feitos para o dia seguinte? Para a semana seguinte? Ou define uma data conforme o trabalho?
- Prefere que venham corrigidos? Ou que sejam feitos pelo aluno sozinho conforme ele consiga?
- Qual a pressão que faz sobre os TPC? Estão previstos castigos ou prémios sobre a entregue ou a qualidade dos TPC?
Fale com o monitor do Centro de Estudos ou com a avó que fará os TPC com o seu filho. Combinem as regras básicas e deixe alguma margem de manobra para que a criança e o adulto responsável possam gerir detalhes de como fazer os TPC. Por exemplo, se o professor diz que quer os TPC para o dia seguinte e bem feitos, pode dizer à avó e à criança que vai ver os TPC ao jantar e que não quer nada por perto que distraia a criança enquanto faz os TPC (brinquedos, TV…). Assim, terá oportunidade de valorizar o que a criança está a aprender e verificar se está a fazer os TPC com qualidade. Por outro lado, não se mete demasiado no processo; se faz tudo de uma vez, a que horas, na mesa da sala ou na cozinha…
É importante o aluno interiorizar que é da sua responsabilidade perceber os TPC. Que pode perguntar de novo ao professor ou a um colega até ficar certo sobre o que tem para fazer e quando é para entregar. Por exemplo: dizer que “o TPC é estudar a tabuada” ou dizer que “daqui a uma semana tenho de saber de cor e salteada a tabuada do 4” é bastante diferente.
Dizer que o professor disse o TPC já no final da aula, que estava muito barulho na sala, ou que já não teve onde anotar são desculpas de quem não tem responsabilidade (1ª referida acima) sobre o TPC e de quem não tem intenção de os fazer com empenho. Assim como, saber o que é o TPC mas não trazer o manual onde estão os exercícios que eram para fazer (2ª responsabilidade). Ou “esquecer-se” que tinha um TPC e só se lembra à noite quando se vai deitar (3ª responsabilidade). Ou nem tenta começar o exercício de TPC porque “era muito difícil”, sem sequer comparar com outros exercícios semelhantes que foram feitos na aula (4ª). Ou então, ainda não fez o TPC porque a mãe está a tratar do mano e não vem sentar-se ao seu lado (5ª). Finalmente, mostra pouca (6ª) responsabilidade se deixa parte do material que tirou da mochila em cima da secretária do quarto e que lhe fará falta no dia seguinte para a escola.
Nos primeiros anos de escolaridade, ou mais tarde se necessário, podemos registar os progressos nestas competências. Anote de cada vez, no máximo, três das seis competências acima referidas e ajude a criança a autoavaliar-se diariamente nessas três competências (por exemplo, faz um desenho se cumpriu e risca o “quadrado” se não cumpriu). Ao fim de seis sucessos consecutivos numa competência, dê uma medalha alusiva à criança e introduza outra das competências.
Mas, e se apesar de responsável, a criança mostra dificuldade em fazer os TPC? Parece distraída, insegura, queixosa, lenta…
Procure dar conta dos sinais de alerta antes dos TPC se transformarem numa batalha diária.
É compreensível que algumas crianças tenham mais gosto e outras menos em se sentarem a fazer os TPC; que umas demorem mais tempo e outras sejam bastante rápidas; que precisem bastante de ajude especialmente enquanto não forem autónomas a ler; e que a família por vezes tenha de ajustar as suas saídas aos fins de semana porque a criança tem um trabalho maior para fazer.
Mas atenção, nada de exageros. Uma família em que a conversa dos fins de tarde e noite é invariavelmente sobre a escola, os trabalhos, os recados e as dificuldades da criança, precisa de ajuda urgentemente. A criança que, todos os dias, chora, que fica de castigo, que traz para TPC as fichas que não fez na escola e/ou gasta todo o seu tempo livre sentada à mesa com os trabalhos, precisa de ajuda. Não é normal os TPC serem uma “Tortura para Crianças”!
Em jeito de conclusão, podemos dizer que a nossa missão é sensibilizar as crianças que vão para a escola para alguns ensinamentos muito importantes ao longo da vida:
- Aprender pode ser mais fácil ou mais difícil conforme as pessoas e as tarefas e tem mais a ver com a nossa atitude do que com a nossa inteligência
- Quando é mais difícil, o truque é praticar mais e procurar formas mais eficazes de praticar
- Quando aprendemos, torna-se fácil e permite que nos dediquemos a outras aprendizagens; acumular aprendizagens que ainda não se tornaram fáceis, aumenta a dificuldade de aprender as próximas
- Enquanto aprendemos, é normal sentirmo-nos inseguros (se vamos conseguir, se vão gozar connosco), sentirmos a pressão (de muito trabalho, das notas dos testes) e sentirmo-nos tentados a desistir (há coisas mais fáceis e que dão prazer imediato como ver desenhos animados); é normal sentir isso e é importante desenvolver uma voz interna que nos encoraja a continuar e a acreditar que aprender é o melhor para nós, que vamos conseguir e nos dará muito prazer
- É por isso que temos pais, para estarem lá quando precisamos, para nos ouvir e ajudar a pensar, para nos darem o exemplo da paciência, do empenho, do orgulho pelos pequenos progressos e da confiança de que iremos aprender como todas as outras crianças.
Psicóloga
Clínica Crescendo
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