O sono da criança: Quem dorme com quem?
Sono da criança: Quem dorme com quem?
No mês em que se assinala o Dia Mundial do Sono – 17 de Março – parece-nos importante não só falarmos das perturbações do sono por si só, mas também dos hábitos e métodos associados à rotina do sono, sobretudo na infância.
Se por um lado é unânime que a qualidade do sono e o n.º horas que uma criança dorme são fundamentais para o seu desenvolvimento global (físico, cognitivo, emocional e social), não é tão consensual o local onde a criança deve dormir, sozinho ou na cama com os pais, até quando e porquê.
É a criança que dorme com os pais ou são os pais que dormem com a criança?!
Considerando as novas tendências, métodos e movimentos que defendem diferentes abordagens na hora de fazer dormir uma criança, importa refletir sobre dois aspetos que nos parecem essenciais: será seguro para a integridade física de uma criança dormir com os pais na mesma cama?! Haverá implicações no seu desenvolvimento psicológico e emocional?!
Tendo presente a forma como se processa o desenvolvimento global de uma criança, parte-se da ideia de que este se inicia envolto de uma grande dependência (física e psíquica) decorrente da condição humana e, ao contrário de outras espécies que quando nascem são mais aptas, evoluindo com o passar do tempo e, se tudo decorrer com normalidade, a criança vai-se autonomizando dos cuidados do adulto, ganhando mais competências, gerindo melhor o seu comportamento, emoções e os pensamentos.
Ora o sono, faz parte de muitas das necessidades e rotinas do dia-a-dia de uma criança e sua família, pelo que, o objetivo das mesmas é que a criança perceba a sua importância, porque estrutura o seu dia-a-dia e ao mesmo tempo evolua e vá ganhando autonomia na execução das mesmas, mas, para isso deve haver alguma continuidade nas práticas. Logo não parece fazer muito sentido, que se pense em conseguir que uma criança durma sozinha, quando na verdade ela está a ser habituada a dormir acompanhada. Os riscos destas práticas são variados e em domínios distintos.
Efectivamente, existem riscos para a integridade física de crianças que dormem com os pais na mesma cama, p.e.: asfixia mecânica (um braço, perna que é colocado por cima da criança adormecida); o local que ocupa na cama podendo rebolar e cair; posturas inadequadas por deformação do colchão prejudicando a qualidade do sono; interferir na intimidade do casal; Pais que sejam fumadores, consumam bebidas alcoólicas em excesso ou outras substâncias e/ou tenham obesidade mórbida acarretam também riscos para a qualidade do sono do bebé. Assim, preferencialmente as crianças deverão dormir num berço separado da cama dos pais até aos 12 meses, mesmo que contíguo à mesma, para facilitar os períodos de amamentação, embalo e vigilância. Após essa altura, a criança reúne condições para puder transitar para um quarto separado do dos pais, mantendo estes um cuidado redobrado, sobretudo na fase de transição.
Ao nível psicológico e emocional os riscos situam-se sobretudo na confusão que pode gerar na criança entre a dependência vs. autonomia/individuação.
Uma criança com 3 anos deverá já ter interiorizado que tem o seu espaço, a sua cama, o quarto e que é totalmente separada da mãe, do pai e/ou outros cuidadores, ou seja, existe um limite também ele físico e corporal que a separa das pessoas mais importantes. Isto permite-lhe desenvolver autonomia nas várias tarefas que favorecem o desenvolvimento, sentimentos de competência, reconhecimento dos limites e hierarquias; responsabilização pelas suas ações e ajuda na capacidade de regulação emocional, resolução de problemas e favorece a auto estima.
A manutenção da ligação quase umbilical ao bebé e à criança, é negar/adiar a necessidade e ímpeto natural de autonomização, de crescimento e desenvolvimento inerentes ao ser humano o que trará consequências graves para a estruturação da personalidade da criança.
Lúcia Oliveira
Psicóloga
Clínica Crescendo
Contacte-nos em https://clinicacrescendo.com