Efeitos adversos da obesidade na fertilidade
A obesidade e o excesso de peso são cada vez mais prevalentes na sociedade moderna actual.
O efeito negativo da obesidade na fertilidade foi observado pela primeira vez há 2500 anos com Hipócrates e, hoje sabe-se que está associada a irregularidades menstruais, a anovulações crónicas, ao Síndrome dos ovários poliquísticos, a um aumento da taxa de abortos, à diminuição de gravidezes espontâneas e à diminuição da taxa de sucesso das técnicas de procriação medicamente assistida.
O índice de massa corporal (IMC) que expressa a relação entre o peso (massa corporal) e a altura de um indivíduo, traduz-se pelo quociente entre a massa corporal em Kilos e o quadrado da altura em metros, [IMC=Peso(kg)/Altura²(m)], e tem sido frequentemente utilizado para estimar o peso ideal ou a obesidade.
A OMS, em 2000, standardizou a classificação do excesso de peso e da obesidade baseada no IMC, para adultos de ambos os sexos.
CLASSIFICAÇÃO DA OBESIDADE DE ACORDO COM O IMC
CLASSIFICAÇÃO | IMC (Kg/m²) | RISCO DE CO-MORBILIDADE |
Baixo Peso | ≤ 18,5 | Baixo |
Peso Normal | 18,5 – 24,9 | Médio |
Excesso de Peso | ≥ 25 | |
Pré-obesidade | 25 – 29,9 | Aumentado |
Obesidade Grau 1 | 30-34,9 | Moderado |
Obesidade Grau 2 | 35-39,9 | Severo |
Obesidade Grau 3 | ≥ 40 | Muito severo |
Segundo os dados da International Task Force, a prevalência da pré-obesidade e da obesidade em Portugal é de cerca de 45% de mulheres com obesidade, o que coloca Portugal em 4º lugar na Europa.
A obesidade pode exercer efeitos sobre o eixo hipotálamo-hipófise-ovariano e, como tal, perturbar o ciclo menstrual e a ovulação. Em diversos estudos foi constatado que as irregularidades do ciclo menstrual e a anovulação estão relacionadas com o excesso de peso ou Obesidade.
Na verdade, as mulheres extremamente obesas têm uma taxa de disfunção menstrual 3,1 vezes superior à das mulheres com peso dentro dos parâmetros normais. Foi também observada uma relação linear entre maior IMC e a % de abortos.
Esta relação entre a obesidade e o sucesso reprodutivo é matéria complexa, discutindo-se actualmente os efeitos negativos da obesidade na reprodução humana, de que resultam o atraso para a concepção espontânea, a maior prevalência de infertilidade, de abortos naturais, uma pior resposta aos tratamentos para a infertilidade, além da maior predisposição a complicações obstétricas.
A explicação para a infertilidade decorrente do excesso de peso, está no desequilíbrio hormonal provocado pelo acúmulo de tecido adiposo no organismo. Uma das substâncias responsáveis pelo funcionamento das gónadas masculinas (testículos) e das femininas (ovários) é a enzima aromatase. Como ela é produzida nos adipócitos, quanto mais obesa é a pessoa, maior será a quantidade de aromatase sintetizada pelo seu organismo. Em excesso, essa enzima altera o equilíbrio dos esteróides sexuais, hormonas que regulam a produção de óvulos e de espermatozóides.
Num estudo elaborado por especialistas americanos, apresentado no Congresso da Sociedade Americana da Reprodução (Filadélfia 2009), demonstrou-se que o excesso de peso pode ter um efeito negativo sobre a qualidade do ovócito e, que as mulheres obesas têm mais dificuldade em engravidar, mesmo quando submetidas a técnicas de reprodução medicamente assistida.
Demonstrou-se também, que as mulheres obesas exigiam maior dose de estimulação das gonadotrofinas e, que destas resultava a produção de um maior número de ovócitos imaturos.
Alguns autores sugerem que o aumento das taxas de abortamento espontâneo precoce nas mulheres obesas, pode ser atribuída à redução da qualidade dos ovócitos, do qual resultará um menor potencial para o desenvolvimento do embrião, levando a uma implantação deficiente e consequente maior taxa de abortos.
A maioria das mulheres obesas não são inférteis, no entanto, está bem documentado o impacto negativo da Obesidade sobre a Fecundidade e a Fertilidade.
As mulheres obesas são três vezes mais propensas a sofrer de infertilidade, comparativamente a mulheres com um IMC normal.
Um outro estudo, elaborado por médicos dinamarqueses e publicado na revista científica FERTILITY AND STERILITY, demonstrou que o excesso de peso no homem, reduz o nível de testosterona e aumenta o nível de estradiol, comprometendo a produção de esperma. Além disso, outros estudos comprovam que os homens com excesso de peso, possuem um maior índice de fragmentação do DNA dos espermatozóides, originando falhas na fertilização.
Um outro estudo da NATIONAL UNIVERSITY OF CÓRDOBA (Argentina), mostrou que os homens obesos apresentavam níveis mais baixos de α-glucosidase (enzima segregada para o fluido do epidídimo) o qual tem um importante papel no amadurecimento e na mobilidade dos espermatozóides.
CONCLUSÃO
Homens com IMC ≥ 25 = ↓ da concentração dos espermatozóides em ≈ 24%
Mulheres com IMC ≥ 25 = redução na taxa de gravidez em ≈ 30%
Ou seja: A OBESIDADE COMPROMETE A FERTILIDADE EM AMBOS OS SEXOS
Um estudo da Sociedade Americana de Medicina Reprodutiva, mostrou que até 6% dos casos de infertilidade primária nas mulheres podem estar associados ao excesso de peso e, que além disso, mais de 70% dessas podem vir a engravidar espontaneamente se houver redução do peso corporal com EXERCÍCIO FÍSICO e DIETA apropriada.
Segundo as guide-lines da Sociedade Britânica de Fertilidade, os médicos devem aconselhar as suas pacientes, no sentido destas reduzirem o seu peso para obterem um IMC normal, antes de iniciar qualquer tratamento de fertilidade. O tratamento de 1ª linha para todas as mulheres com excesso de peso que procuram tratamento de fertilidade, deve consistir em DIETA e EXERCÍCIO FÍSICO.
Impacto da perda de peso, na recuperação da função ovárica:
“A melhoria da sensibilidade à insulina, conseguida com a perda de peso, reflecte-se favoravelmente na mulher obesa com ovário poliquístico e hirsutismo, traduzindo-se na recuperação dos ciclos menstruais e, por vezes, na própria ovulação e consequente fertilidade.”
Ao abordar a fertilidade em mulheres obesas, devem ser sempre consideradas as consequências obstétricas e neonatais dessa gravidez. A gravidez é um empreendimento mais arriscado em mulheres obesas, sendo mandatório o pré-aconselhamento relativamente à manutenção de um IMC dentro dos parâmetros normais, independentemente do desejo de concepção normal ou assistida, com o objectivo de garantir a fertilidade destas mulheres e saúde materno-fetal na gravidez subsequente.
Assim,
- O casal obeso com quadro de infertilidade, deve começar por perder peso, fazendo DIETA e EXERCÍCIO FÍSICO.
- A mulher obesa que pensa em engravidar, deve primeiro perder peso, fazendo DIETA e EXERCÍCIO FÍSICO.
Vitor Caeiro
Ginecologista e Obstetra
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