KIT de sobrevivência para tempos de espera
Fazer uma criança esperar pode ser difícil.
Até para um adulto, especialmente se tiver de esperar muito tempo ou se tiver poucas estratégias para lidar com os tempos de espera.
Mas esperar a sua vez é destino quase certo enquanto não vem a comida no restaurante, quando vamos ao médico, enquanto os adultos conversam, numa repartição pública, quando esperamos que o professor nos venha ajudar, ou quando se fura um pneu…
Em casa, talvez seja o local onde menos tempo passamos à espera de alguma coisa. Podemos distrair-nos com outra coisa. “Entreter-se” é a palavra – “saber esperar” pressupõe geralmente que a pessoa desenvolveu estratégias para se entreter e para controlar a impaciência.
E como se desenvolvem essas estratégias na criança e no jovem?
Pelas boas experiências e pelos bons exemplos.
Começando em casa em coisas pequeninas que fazem toda a diferença.
O que fazer em casa?
- Crie um bom ambiente durante as refeições da família (de preferência, a família reúne numa refeição, pelo menos, uma vez por dia). Ou seja, durante a refeição, todos:
- conversam sobre assuntos agradáveis e acessíveis ao entendimento de todos os presentes
- encorajam os mais novos e/ou impacientes a participar na conversa
- só se levantam a meio da refeição para tarefas relacionadas com a refeição
- se uma criança (ou jovem ou até adulto) se mostrar impaciente, dê-lhe uma tarefa relacionada com a refeição, como levar os pratos vazios para o lava-louça ou voltar a encher o jarro da água
- nenhum adulto dá mau exemplo de se levantar ou sair da conversa para atender uma chamada telefónica.
- Crie bons hábitos intestinais (uma vez por dia, mais ou menos à mesma hora, nem tempo demais, nem de menos); deixe próximo da sanita uma revista, um livro de banda desenhada ou um livro de passatempos (e um lápis) adequados à idade da criança ou jovem.
- Proporcione momentos em que a criança se deverá entreter sozinha; para ganhar o diploma de boa mãe ou bom pai deverá cumulativamente:
- conseguir dar à criança um tempo livre de, mais ou menos, uma hora por dia
- conseguir que a criança diversifique a forma de se entreter (pelo menos 3 atividades diferentes por semana)
- conseguir que a criança se entretenha autonomamente (tome iniciativa do que vai fazer, não peça ao adulto para ficar com ela, arrume no final o que desarrumou) sem se mostrar aborrecida.
- Jogue com a criança a jogos em que cada um tem de esperar a sua vez. Pode usá-los como prémios por a criança estar mais autónoma nos trabalhos de casa ou despachada no banho. Comece por jogos em que o tempo de espera de cada jogador é diminuto e vá aumentando o desafio. Tem ao seu dispor os jogos de cartas, dominó, loto, jogo da Glória, Damas, Xadrez, Mikado, Batalha Naval, Monopólio, etc, etc.
E fora de casa?
- Prepare-se para qualquer eventualidade: tenha, por hábito, no carro ou na sua carteira, um mínimo de entretenimento de emergência. Evite que a sua criança ocupe tempos de espera a trincar bolachas ou a jogar no seu telemóvel. Por isso, tenha um pequeno bloco de papel branco e duas esferográficas de cores diferentes – serve para desenhar, jogar ao jogo do galo, à forca, ao Stop, etc. Pode também ter um livro de passatempos com diferenças, palavras cruzadas ou sopas de letras. Junte uma cábula com ideias de jogos orais: se estiver no trânsito, jogue às “Palavras começas por…”, às “Matrículas que somam número par” ou ao “Eu fui à praia e vi um…” (cada um repete todos os itens já ditos, pela ordem em que foram ditos e junta mais um item no final).
- Prepare a criança ou jovem: avise-o com a devida antecedência dos compromissos em que participa (quanto mais velha a criança, mais deverá ser avisada com tempo). Encoraje-a a preparar algum entretenimento apropriado ao compromisso, avisando-a que não poderá jogar telemóvel mais do que um certo tempo.
- Proporcione momentos para apreciar a tranquilidade, a natureza, o simples e o silêncio; deixe-o usar o telemóvel para gravar o som do mar ou o chilrear dos pássaros ou para fotografar o pôr do sol ou a formiga a transportar uma migalha maior do que ela.
- Intercale com momentos para apreciar formas de cultura. As visitas e o ser leitor da biblioteca local devem ser prática precoce e regular. Depois, conheça e explore os gostos da criança indo, pelo menos uma vez, ao cinema, ao teatro, à dança, ao museu, etc. Leve-o a lanchar de seguida e oiça as suas opiniões; as primeiras serão muitas vezes as menos interessantes. Sorria, não comente e continue a puxar por ele: vai ver que vale a pena!
Psicóloga
Clínica Crescendo
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